#6

Meu caro Estranho.
Escrevo-te esta carta, sem motivo aparente, sem razão elaborada.

Escrevo-te para venerar essa tua condição, condição de estranho.
Gostava de te elogiar e de te invejar por singelos minutos, por esse lugar onde te encontras, na sombra, na sombra das emoções.
Queria saber, se já gastaste todas as tuas palavras, ou se ainda tens mais alguma coisa para dizer.
Gostava de saber acima de tudo, se és feliz. Porque se além de todas estas condições que a vida te impôs, tu fores feliz, ai sim eu vou-te admirar com tudo aquilo que tenho!
O que é que te falta estranho?
O que é que te resta?
Restam-te os passos dados em vão naquela avenida movimentada, em que ninguém te vê, ninguém te observa porque lá esta, és um estranho, ou pelo contrário ainda te resta aquela virtude fantástica, de saber ouvir com tanta atenção , quem afinal não te é nada?!
Eu acredito, que na sua vida, cada um tem um estranho, o estranho que atinge aquele papel crucial no desenrolar da nossa personalidade, tu és o meu, não leves a mal se nunca reparei em ti, afinal faz parte do teu papel, o papel de estranho.

Despeço-me com saudade e estima

Raquel Santos